Hospitalidade ou hostilidade: caminhos possíveis do Turismo diante do crescente movimento antiamericanismo

Autor: *Grazielle Ueno

Viajar nunca foi apenas sobre conhecer novos lugares. É também sobre como nos sentimos acolhidos, bem-vindos e seguros. É por isso que a imagem de um país no cenário internacional impacta diretamente seu desempenho no turismo. A recente queda no fluxo de turistas internacionais para os Estados Unidos revela exatamente isso: quando um país projeta hostilidade, os viajantes simplesmente escolhem outro destino. 

Christopher Gaffney, professor da Universidade de Nova York, resume bem o atual cenário: “Os Estados Unidos estão projetando uma face agressiva, belicosa, meio raivosa. Isso aumentará o sentimento antiamericano. As pessoas escolherão viajar para outro lugar.” E os números começam a refletir essa percepção. Só em março de 2025, o país recebeu 14% menos turistas estrangeiros que no mesmo mês de 2024. 

Embora alguns mercados, como o mexicano (+15%) e o brasileiro (+4,4%), ainda registrem crescimento pontual no turismo para os Estados Unidos, outros mostram forte retração. O Canadá, tradicional emissor de turistas para os EUA, teve uma queda de 9,8% no primeiro bimestre e uma impressionante redução de 70% nas reservas de agens até setembro, em comparação ao mesmo período do ano anterior. 

A consequência disso vai muito além de aeroportos mais vazios. A cada 1% de queda nos gastos de visitantes internacionais, os EUA deixam de arrecadar US$ 1,8 bilhão. É uma cadeia que impacta diretamente toda a cadeia produtiva do turismo, como hotéis, restaurantes, parques, comércio e transporte. 

Enquanto a maior potência do mundo enfrenta esse dilema, surge um contraponto interessante: o Brasil vive um momento de alta no turismo internacional. O país registrou recordes históricos no início de 2025, ultraando 2,5 milhões de visitantes estrangeiros no primeiro trimestre e superando US$ 2 bilhões em receitas. Por que esse contraste? Porque, enquanto os EUA se fecham em discursos hostis, o Brasil se abre ao mundo com sua diversidade cultural, hospitalidade e uma imagem cada vez mais associada à sustentabilidade, à alegria e à pluralidade.  

O Brasil está sabendo fazer a lição de casa e aproveitar sua vocação turística. Ampliou sua presença em feiras internacionais, fortaleceu campanhas de promoção e, principalmente, construiu um discurso alinhado com os desejos dos viajantes contemporâneos: natureza, cultura, experiências autênticas e acolhimento. O que esse cenário revela é que turismo não é só sobre belas paisagens, mas também sobre reputação. É um setor altamente sensível às relações diplomáticas, aos discursos políticos e à forma como os países se posicionam globalmente. Enquanto alguns constroem muros — simbólicos ou literais —, seguimos construindo pontes. E, no turismo, quem abre portas sempre terá mais a ganhar. 

 *Grazielle Ueno é professora e coordenadora de curso da Uninter. Doutora em Tecnologia e Sociedade, mestre em Turismo e especialista em Educação e em Meio Ambiente. 

Incorporar HTML não disponível.
Autor: *Grazielle Ueno
Créditos do Fotógrafo: Pexels


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *